Hoje, sinto-me um pouco triste e mais doente do que nos outros dias. A minha mãe teve de ir trabalhar logo cedo. Saiu do quarto do hospital ainda eu estava a dormir. Quando acordei, perguntei por ela à enfermeira e foi aí que fiquei a saber que já tinha ido embora. Voltei a deitar-me e fechei os olhos. Não tinha sono, mas se fechasse os olhos, as lágrimas ficariam ali presas. Assim, ninguém poderia ver-me chorar. O dia estava tão cinzento que fiquei ainda pior. Sem vontade de me levantar, de falar e até de brincar. Ontem, o tratamento tinha-me dado volta ao estômago e hoje que estava melhor, a mãe não estava ao meu lado. 

- Bom dia Rosinha. - disse a Lola colada à porta do quarto. 

- Olá... - respondi eu, sem me virar. 

- Já tomaste o pequeno-almoço? - perguntou ela. 

- Não me apetece... 

- Ainda te dói a barriga? - perguntou a Lola preocupada. 

- Hoje, dói-me o coração, Lola... - disse eu quase deixando escapar uma lágrima. 

A Lola aproximou-se da minha cama e aí, como costuma dizer a minha mãe, foi a gota de água! Desatei a chorar. Ela abraçou-me com a força que o corpo lhe permitia. Escondi a cabeça nos seus braços e chorei devagarinho. A Lola é muito querida comigo. Deu-me miminhos na cabeça, passando suavemente a sua mão.

- Por que é que choras, Rosinha? - perguntou Lola.

- A mãe já foi embora e eu queria estar com ela.

Mas antes de continuar a conversa, algo no chão chamou a atenção de Lola. Havia qualquer coisa a bilhar debaixo da cama da Rosinha.

- Olha Rosinha! O que é aquilo? - perguntou Lola, muito curiosa.

Agachei-me e espreitei. Estiquei o braço e consegui agarrar um pequeno círculo azul com uma pequena medalha em forma de coração. Era uma pulseira. Peguei nela e li o que estava inscrito na medalha.

 

                                                             

As minhas lágrimas secaram de imediato, como se o calor do sol as tivesse levado. Mas, na verdade, quem tinha roubado as gotinhas de sal do meu rosto era o amor da minha mãe. Talvez tivesse deixado a pulseira em cima da cama, ao meu lado. Quando me levantei, deve ter caído no chão sem que eu a visse. 

- Que linda! - disse Lola, ao ver a pulseira. 

- Sim, é tão linda! - disse eu com um sorriso de orelha a orelha. 

- Então, ainda te dói o coração? - perguntou Lola com o seu ar traquina. 

- Ah ah ah... Sim, mas de felicidade!  

Desatámos as duas a rir. 

- Sabes, Rosinha, se a tua mãe não te disse nada antes de ir trabalhar, é porque não te queria acordar. Não achas? 

- Sim, acho que tens razão Lola. 

Coloquei a pulseira no meu pulso e achei engraçada a ideia de ter uma medalha em forma de coração num sítio onde costumo sentir o meu. Os batimentos no meu pulso davam vida àquela medalhinha cinzenta. 

A seguir, a dona Maria chegou com o meu pequeno-almoço. 

- A menina Rosinha parece muito feliz hoje. - disse ela divertida. 

- Sim, dona Maria. A minhã mãe ofereceu-me esta pulseira linda! - respondi eu muito animada. 

A dona Maria fez um sorriso gordinho. Eu gosto muito dela porque tem umas bochechas que dão vontade de dar beijinhos a toda a hora de tão rechonchudas que são. Além disso, quando não me apetece comer, ela gosta de inventar histórias sobre os alimentos. Fico com tanta pena dos pobres legumes, que acabo por comer tudo! Ah ah ah! 

E assim começou o meu dia de hoje. Triste e feliz. Amargo e doce. Cinzento e colorido. E o vosso? 

 

Beijinhos! Até sempre! {#emotions_dlg.rainbow}

sinto-me: feliz
publicado por Sandrine às 10:47